domingo, 18 de outubro de 2020

A persistência do mistério




Qual é a origem do universo? Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? São perguntas que fascinam, instigam a imaginação, que movem o conhecimento. 

Dança do universo, obra de Marcelo Gleiser é uma excelente sugestão de leitura, um convite para pensar sobre essas questões e outras que implicam possibilidades e limites da ciência,  sua relação com a religião e os mitos criacionistas.




"A ciência tem o poder de expandir nossa percepção do mundo, permitindo-nos explorar mundos invisíveis é fascinantes, sejam eles células, átomos ou mesmo estrelas ou galáxias distantes. Esse é, provavelmente, um dos motivos que inspiram tantas pessoas a se dedicarem suas vidas ao estudo da Natureza. De vez em quando elas se deparam com algo novo, um mundo previamente invisível, que irá expandir nossos horizontes intelectuais, desafiando nossa imaginação ." (p. 278)

"O dogmatismo necessariamente leva à ignorância. E a ignorância inspira o dogmatismo" (p. 377).

"É a persistência do mistério que nos inspira a criar " (p. 398).

GLEISER, Marcelo. A dança do universo: dos mitos de Criação ao Big-Bang. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

domingo, 11 de outubro de 2020

Kafka: narrativas que perturbam

Os textos de Franz Kafka (1883-1924) ainda perturbam a boa consciência encastelada, narcísica.  A prosa literária de Kafka é do tipo enigmática, como transparece em A metamorfose (escrito em 1912 e publicado 1915) , em que numa manhã Gregor Samsa acorda transformado em um inseto monstruoso. "O que aconteceu comigo?", pergunta-se Samsa. Nessa indagação, há como que uma pergunta do  humano que indaga pela sua condição, uma humanidade agora reduzida a um inseto. Será a angústia de um humano diante de suas monstruosidades, de uma racionalidade em colapso, espécie de anúncio dos horrores que estavam por vir?
Enfim, A metamorfose alia o inverossímil e o senso de humor ao trágico e cruel que emergem da condição humana. 



Dentre os escritos de Kafka, para ficar nesta seleção Essencial da Companhia das Letras (2011), estão também  O veredicto, Um artista da fome, Na colônia penal, A ponte.
 
Na colônia penal é uma novela. Uma ficção que relata as experiências de um explorador europeu numa colônia penal localizada nos trópicos. Encontra-se ali uma máquina de tortura e extermínio que está sob os cuidados de um oficial militar, o qual está comprometido a fazer valer essa diabólica  forma de justiça.
"Aqui jaz o antigo comandante. Seus adeptos,  que agora não podem dizer o nome, cavaram-lhe o túmulo e assentaram a lápide. Existe uma profecia segundo a qual o comandante, depois de determinado número de anos, ressuscitará é chefiará seus adeptos para a reconquista da colônia." 

sábado, 10 de outubro de 2020

Baratas - livro de Scholastique Mukasonga

 Baratas, obra de Scholastique Mukasonga, escritora de origem ruandesa, descreve o drama que a própria autora viveu com seu povo durante a guerra civil que assolou Ruanda nos anos de 1990. 

O termo "baratas" (inyenzi) designava pejorativamente os tutsis. Ou seja, a pertença a esse grupo étnico significava receber toda sorte de humilhação, perseguição e assassinato. Aliás, o genocídio desse povo é tema do filme Hotel Ruanda (2004).

Baratas é uma obra autobiográfica,  a partir da qual Mukasonga (uma sobrevivente) expõe profundas camadas do que significou e ainda significa o horror pessoal e coletivo do massacre ruandês.

Um aspecto que autora destaca é o papel da educação, quando esta não é libertadora: "...eram bons alunos e logo assimilaram a única lição que lhes foi dada: humilhar e aterrorizar uma população sem defesa" (p. 76).

Por fim, importante destacar que não obstante aos que lhe quiseram apagar as memórias, inclusive negando-lhe a possibilidade de encontrar e enterrar o corpo de sua mãe, Mukasonga declara: "os assassinos quiseram apagar até suas lembranças, mas no caderno escolar que nunca me deixa, registro seus nomes, e não tenho pelos meus e por todos aqueles que pereceram em Nyamata, nada além deste túmulo de papel" (p. 182).

MUKASONGA, Scholastique. Baratas. São Paulo: Nós, 2018.