terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A Sul. O sombreiro

 A Sul. O Sombreiro, de Pepetela, é um romance que tem por base a história de Angola, ambientado nos primórdios do colonialismo. Conhecemos ali a canga, o aprisionado e a venda de gente como escrava, com o aliciamento de pumbeiros que se embrenhavam pelo interior da África para 'caçar' gente e entregar aos traficantes. Na briga por essa 'riqueza', com contínuas conspirações, envolvem-se governantes e ordens religiosas... 




quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Um preço muito alto

 Um preço muito alto, obra de Carl Hart (Zahar, 2014), como indica o subtítulo, descreve a jornada de um neurocientista que desafia nossa visão sobre as drogas. 

A questão das drogas é uma preocupação que ocupa diferentes áreas da sociedade, sobretudo ao que diz respeito às políticas públicas que lidam com essa problemática. No entanto, sobressaem-se práticas e discursos punitivistas e moralizantes. Há muitos mitos em relação ao assunto, reforçando um sistema que é irracional, cujo resultado é mais violência e descriminação. " A aplicação seletiva das leis sobre as drogas parece ser usada como ferramenta de marginalização dos homens negros, para mantê-los no círculo vicioso de prisão e isolamento da sociedade como um todo" (p. 302).

Enfim, trata-se de uma leitura mais do que sugestiva, mas necessária.



Sobre o assunto, vale a pena conferir a entrevista que Carl Hart concedeu a Dráuzio Varella, que aponta um novo olhar sobre as drogas.

domingo, 8 de novembro de 2020

A ideia de justiça

 De Amartya Sem – In. A ideia de justiça –: “A fim de compreendermos as raízes da democracia no mundo, temos de nos interessar pela história da participação popular e da razão pública em diferentes regiões e países. Temos de ultrapassar a ideia da democracia apenas em relação à evolução europeia e americana.”

Oportunidade social, desempenho econômico, voz política (participação, cidadania), argumentação racional pública - elementos de uma sociedade democrática (Amartya Sen)

domingo, 1 de novembro de 2020

O ódio à democracia - Jacques Rancière

O ódio à democracia, de Jacques Rancière, é uma excelente chave de leitura para entender o contexto atual, em que a esfera pública está infestada por dinâmicas que destroem os valores coletivos, conduzem a humanidade a um novo tipo de totalitarismo. 

Intervir nas dinâmicas tradicionais de poder significa mexer na ordem estabelecida, mítica e/ou econômica. "A história conheceu dois grandes títulos para governar os homens: um que deve à filiação humana ou divina, ou seja, a superioridade no nascimento; e outro que se deve à organização das atividades produtoras e reprodutoras da sociedade, ou seja, o poder da riqueza. As sociedades são habitualmente governadas por uma combinação dessas duas potências, às quais força e ciência, em proporções diversas, dão reforço". (Jacques Rancière. Ódio à democracia. São Paulo: Boitempo, 2014, p. 62).




domingo, 18 de outubro de 2020

A persistência do mistério




Qual é a origem do universo? Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? São perguntas que fascinam, instigam a imaginação, que movem o conhecimento. 

Dança do universo, obra de Marcelo Gleiser é uma excelente sugestão de leitura, um convite para pensar sobre essas questões e outras que implicam possibilidades e limites da ciência,  sua relação com a religião e os mitos criacionistas.




"A ciência tem o poder de expandir nossa percepção do mundo, permitindo-nos explorar mundos invisíveis é fascinantes, sejam eles células, átomos ou mesmo estrelas ou galáxias distantes. Esse é, provavelmente, um dos motivos que inspiram tantas pessoas a se dedicarem suas vidas ao estudo da Natureza. De vez em quando elas se deparam com algo novo, um mundo previamente invisível, que irá expandir nossos horizontes intelectuais, desafiando nossa imaginação ." (p. 278)

"O dogmatismo necessariamente leva à ignorância. E a ignorância inspira o dogmatismo" (p. 377).

"É a persistência do mistério que nos inspira a criar " (p. 398).

GLEISER, Marcelo. A dança do universo: dos mitos de Criação ao Big-Bang. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

domingo, 11 de outubro de 2020

Kafka: narrativas que perturbam

Os textos de Franz Kafka (1883-1924) ainda perturbam a boa consciência encastelada, narcísica.  A prosa literária de Kafka é do tipo enigmática, como transparece em A metamorfose (escrito em 1912 e publicado 1915) , em que numa manhã Gregor Samsa acorda transformado em um inseto monstruoso. "O que aconteceu comigo?", pergunta-se Samsa. Nessa indagação, há como que uma pergunta do  humano que indaga pela sua condição, uma humanidade agora reduzida a um inseto. Será a angústia de um humano diante de suas monstruosidades, de uma racionalidade em colapso, espécie de anúncio dos horrores que estavam por vir?
Enfim, A metamorfose alia o inverossímil e o senso de humor ao trágico e cruel que emergem da condição humana. 



Dentre os escritos de Kafka, para ficar nesta seleção Essencial da Companhia das Letras (2011), estão também  O veredicto, Um artista da fome, Na colônia penal, A ponte.
 
Na colônia penal é uma novela. Uma ficção que relata as experiências de um explorador europeu numa colônia penal localizada nos trópicos. Encontra-se ali uma máquina de tortura e extermínio que está sob os cuidados de um oficial militar, o qual está comprometido a fazer valer essa diabólica  forma de justiça.
"Aqui jaz o antigo comandante. Seus adeptos,  que agora não podem dizer o nome, cavaram-lhe o túmulo e assentaram a lápide. Existe uma profecia segundo a qual o comandante, depois de determinado número de anos, ressuscitará é chefiará seus adeptos para a reconquista da colônia." 

sábado, 10 de outubro de 2020

Baratas - livro de Scholastique Mukasonga

 Baratas, obra de Scholastique Mukasonga, escritora de origem ruandesa, descreve o drama que a própria autora viveu com seu povo durante a guerra civil que assolou Ruanda nos anos de 1990. 

O termo "baratas" (inyenzi) designava pejorativamente os tutsis. Ou seja, a pertença a esse grupo étnico significava receber toda sorte de humilhação, perseguição e assassinato. Aliás, o genocídio desse povo é tema do filme Hotel Ruanda (2004).

Baratas é uma obra autobiográfica,  a partir da qual Mukasonga (uma sobrevivente) expõe profundas camadas do que significou e ainda significa o horror pessoal e coletivo do massacre ruandês.

Um aspecto que autora destaca é o papel da educação, quando esta não é libertadora: "...eram bons alunos e logo assimilaram a única lição que lhes foi dada: humilhar e aterrorizar uma população sem defesa" (p. 76).

Por fim, importante destacar que não obstante aos que lhe quiseram apagar as memórias, inclusive negando-lhe a possibilidade de encontrar e enterrar o corpo de sua mãe, Mukasonga declara: "os assassinos quiseram apagar até suas lembranças, mas no caderno escolar que nunca me deixa, registro seus nomes, e não tenho pelos meus e por todos aqueles que pereceram em Nyamata, nada além deste túmulo de papel" (p. 182).

MUKASONGA, Scholastique. Baratas. São Paulo: Nós, 2018.





quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Caminhos e sonhos

 "O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro" (Mia Couto - Terra Sonâmbula).

sábado, 22 de agosto de 2020

Revolução Haitiana

 Em 1781, Revolução Haitiana, um fato que marca a história, mas que permanece um tanto escondido, não falado. Os jacobinos negros, obra de C. L. R. James, é essencial para conhecer para conhecer a insurreição dos escravos da colônia francesa de São Domingos.